quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Diário de uma Viagem. Últimas Considerações.

Ao escrever essas considerações, quase toda a Europa está paralisada. As políticas de austeridade em favor do  dinheiro já não são mais suportadas pela população. E já vai tempo, sem horizontes promissores para o futuro. O que será o tempo novo para o velho continente? Sem utopias é impossível viver.
Embora começássemos a nosa viagem por Roma, o destino inicial seria a Grécia. Iniciamos pelo norte. Não deu para sentir muito a questão cultural, com a presença muçulmana e o cristianismo ortodoxo, pela rapidez em nossas visitas. O primeiro OH! da viagem aconteceu em Kalambaka, com suas meteoras. Os mosteiros nelas encravados são qualquer coisa fora do comum Tem muito a ver com estruturas de poder. Estruturas de poder também são o forte nas visitas a Delfos e Olímpia. O teatro de Epidauro é uma jóia rara entre tantas preciosidades oferecidas por esse maravilhoso país.
Mas a promessa maior mesmo, é Atenas. A acrópole, o antigo mercado e os locais construídos por Adriano são encantadores. Foi um sonho de vida que se concretizou. Conhecer os locais onde tudo começou, foi muito impactante. Andar por onde andaram os que por primeiro leram o mundo e dele deram uma interpretação, foi assim algo completamente inusitado. O não se curvar provocou o sentimento de igualdade e assim nasce a ideia da democracia.
O que começou na Grécia, se consolidou em Roma. Das diferentes visões de mundo, procurou se formar uma cultura dominante e, assim surge, a primeira doutrina que pretendeu ser universal. Antes disso, porém, a forma de viver em sociedade ganha aperfeiçoamentos das concepções gregas e se consolidam noções em torno de patriotismo e de República. Roma é sinônimo de civilização.
Andamos de sul a norte, da Sicília até a região dos Lagos. A grande lição que aprendi é a de que a Itália é, toda ela, maravilhosa. Nela não cabem comparações, pois suas belezas são ímpares e peculiares. A Itália é o país do mundo com mais monumentos integrados ao patrimônio cultural da humanidade. A mim me disse muito a cidade de Florença, mas o momento de mair emoção foi em Roma, no Campo dei Fiori, a frente de um dos gigantes da liberdade e do direito da livre e natural investigação sobre a verdade. Estava na frente do monumento em homenagem a Giordano Bruno.
Finalmente a Espanha. História e tradições estão vivamente presentes. Ali se vê poder e domínio já em outro momento da história, quando se consolidou uma nova ordem econômica no mundo, com os descobrimentos e a intensificação das atividades comerciais, que originaram o mundo moderno. O poder absoluto dos reis impressiona. A todos deveria ser concedido o direito de visitar o El Escorial. O tempo foi curto e a decisão de voltar já está tomada.
A nossa viagem durou 28 dias. Os noticiários estavam totalmente dominados pela crise econômica que afeta diretamente os países visitados. No dia em que estivemos em Madrid, houve em Barcelona, a maior manifestação separatista de sua história. A Grécia não está livre de uma guera civil. A Itália é um enorme gigante em convulsão. Os receituários contra a crise são conhecidos de todos nós. Proteger o dinheiro às custas dos direitos das pessoas é a regra geral. Onde acabará tudo isso! Os níveis de acumulação são absolutamente insuportáveis pela própria economia capitalista.
Esses dias vi uma nota de um conservador curitibano (existe isso?) afirmando que de Marx não devem ser aproveitadas nem sequer as vírgulas, mas ao contrário dele, encerro as minhas considerações com um pensamento seu. E é exatamente sobre o caráter moral da economia, esse pensamento. Ele é um tanto longo, mas vale a pena:

Quanto menos comas e bebas, quanto menos livros compres, quanto menos vás ao teatro, ao baile, à taverna, quanto menos penses, ames, teorizes, cantes, esgrimes, etc., tanto mais poupas, tanto maior se torna teu tesouro, que nem traças nem poeira devoram, teu capital. Quanto menos és, quanto menos exteriorizas tua vida, tanto mais tens, tanto maior é a tua vida alienada e tanto mais armazenas da tua essência alienada. Tudo o que o economista tira-te em vida e em humanidade, tudo isso ele te restitui em dinheiro e riqueza, e tudo o que não podes, pode-o o teu dinheiro. Ele pode comer, beber, ir ao teatro e ao baile; conhece a arte, a sabedoria, as raridades históricas, o poder político; pode viajar, pode fazer-te dono de tudo isto; é a verdadeira fortuna.
MARX, Karl. Manuscritos Econômico Filosóficos e outros textos escolhidos. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural. 1985. pág.18.

Moral da história. Com esta viagem fiquei afortunado culturalmente, mas perdi alguns reais, ou melhor, alguns euros. Fiquei mais pobre. Mas, incorrigível, irei repetir a dose no ano que vem. França, Espanha e Portugal estarão no roteiro e prometo um novo diário de viagem.

Um comentário:

  1. Parabéns Mestre Pedro Eloi!
    Pelos seus escritos viajei aos lugares visitados.
    Muito obrigado por compartilhar.
    Abraços,
    Souza

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.