segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Viagem a Paraty - RJ. 3. As Cachaçarias.

A cachaça tem toda uma história. Na língua portuguesa é a palavra que tem o maior número de sinônimos. Só com eles daria para, praticamente, encher um dicionário inteiro. Ela é designada por mais de duas mil diferentes palavras. As mais conhecidas são: cachaça, canha, pinga e aguardente. O seu principal derivado é a brasileiríssima caipirinha.

Sua origem remete aos primórdios dos tempos. É fácil compreender o seu enorme significado cultural. Vapores e aromas lhe conferem um poder místico e poderes de cura. A água que arde ou a água que pega fogo se revestiu de um enorme poder cultural. Egípcios e gregos já a conheciam. Quanto a palavra cachaça, na cultura ibérica, ela teria duas possíveis origens: na primeira ela seria uma derivação de cachaza, um vinho de borra, de qualidade inferior e na segunda, a sua origem estaria ligada ao cachaço, ou mais precisamente à cachaça, o feminino da palavra. Como os cachaços em seu estado natural, os caitutus, tinham carne muito dura eram amolecidos com a borra, ficando assim esse líquido conhecido como cachaça.
Um canavial em Paraty.

Na história brasileira a cachaça possui importância histórica, econômica, social e cultural. e está diretamente relacionada com a colonização e a atividade canavieira. Socialmente, sempre foi uma bebida vinculada ao povão e apenas recentemente ganhou a posição de uma bebida de status. Em Paraty não foi diferente. Lá chegaram a se concentrar mais de trinta engenhos. Os alambiques ganharam o belíssimo nome de "casas de cozer méis". 

As estatísticas nos dizem que existem hoje no Brasil, mais de quarenta mil produtores, dos quais apenas cinco mil estariam registrados. A produção passa de 1,3 bilhões de litros/ano. O consumo anual  per capita  atinge sete litros. Calcula-se que diariamente são servidas mais de setenta milhões de doses. O seu consumo é superado apenas pelo da cerveja. Ultimamente a sua exportação vem crescendo e a meta é atingir cem milhões de dólares por ano. "Não existe crise, o que produzir vende", me afirmou um produtor de Paraty.

A primeira cachaçaria que visitamos foi a Coqueiro, a mais antiga cachaçaria ainda em atividade no Brasil. A sua localização é fácil de ser encontrada. Fica a um quilômetro da BR 101, na direção de Ubatuba. O local é muito bonito. Tem um pequeno museu ligado à cachaça, a céu aberto. Tem um pequeno parque de aves, onde pode ser vista uma avestruz e o orgulhoso pavão. Tem uma roda de moinho (monjolo) e até uma capela. A sua principal marca é a Coqueiro, uma cachaça artesanal "do plantio da cana até o seu engarrafamento", diz o seu site. Por ser um final de expediente de sábado, as atendentes estavam um tanto sonolentas.
A casa de cozer méis e em consequência os méis da Coqueiro. Tem da azulada e da amarela, entre outras.

A segunda cachaçaria que visitamos foi a Maria Izabel, mas esta vai ganhar um post especial. Já de saída, entramos para a estrada que leva a Cunha. É a região que mais concentra alambiques. Visitamos dois deles. O Engenho D'Ouro e o Pedra Branca. O Engenho d'Ouro é apresentado em seu site como um sítio gastronômico, ecológico e cultural. É formado pelo alambique, por um restaurante, especializado em servir galinha caipira com os temperos da região, por um bar, pela casa da farinha, a tafona gaúcha, por um monjolo e por um marco da estrada real.
O alambique Engenho d'Ouro. Um sítio gastronômico, ecológico e cultural.

A sua localização é privilegiada. Tem um marco da estrada real, do caminho do ouro. Este caminho está relativamente bem conservado, devido aos engenhos da engenharia e da drenagem da época. O atendimento é fora de série, feito pelo próprio proprietário, em pleno domingo a tarde. "Aqui conheço muita gente interessante", nos confidenciava ele.
 Os méis do Engenho d'Ouro.

O último engenho visitado foi o da Pedra Branca. O seu cartão de visita é o canavial da primeira foto. Também está localizado às margens do antigo caminho do ouro, na vale da Pedra Branca, que lhe empresta o nome. É todo um complexo familiar que está envolvido com a produção da cachaça, em vários alambiques e com várias marcas, entre elas a premiadíssima Paratyana. A premiada cachaça Corisco é produzida num local mais distante e a sua visita está incluída no roteiro do jeep.

Produtos e o alambique da cachaça Pedra Branca.

A hora nos obrigou a seguir viagem. Campinas seria o nosso destino. Lá passaríamos as festividades de natal. Seguimos pela Br. 101 até Caraguatatuba e subimos a serra pela rodovia dos Tamoios. Depois a D. Pedro nos deixaria em Campinas. Outros passeios dessa vez não puderam ser feitos. Senti que meu filho gostaria de ter feito o passeio de Jeep e eu pessoalmente fiquei muito interessado no city tour pelo centro histórico visitando, com guia, as igrejas, os casarões e procurando entender os muitos símbolos maçônicos em suas casas.
Como aperitivo final, um coquetel com cachaças de Paraty.

2 comentários:

  1. se o consumo é de 7 litros per capita tem alguem tomando 14 porque eu não estou mais tomando já fis parte.

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  2. Seu Arnaldo. No máximo eu molho a boca. Inclusive sou colecionador de cachaça. Colecionador que bebe não existe. Toma tudo. Um abraço.

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