segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Diário de uma Viagem. Albufeira - Mértola e Évora.

De Albufeira saímos no rumo de Faro, a capital do Algarve, onde se localiza o importante aeroporto internacional, o local pelo qual se movimentam os inúmeros turistas da região. Os turistas são para ali atraídos por causa de suas belas praias com águas quentes, pelos centros de lazer que ali foram construídos e pelos centros esportivos, especialmente seus campos de golf. Chegamos ali no dia 4 de julho, dia dedicado a Santa Isabel, simplesmente a padroeira de Portugal. No Faro é muito forte a presença da cultura árabe. Fizemos uma incursão a pé pelo seu centro histórico. Também vale lembrar que todo o Algarve foi fortemente atingido pelo terremoto de 1755.

O guia já nos havia comunicado dos famosos docinhos produzidos na cidade. Eles são famosos em função dos desenhos que recebem. São verdadeiras mini obras de arte. Tomam as mais diferentes formas de animais e de frutas. São para serem comidos pelos olhos. São o grande charme das confeitarias da cidade. Nos detivemos por pouco tempo na cidade já que Mértola nos aguardava. A parte histórica da cidade se concentra  em torno do Largo da Sé e do Palácio Episcopal.
O Largo da Sé, na cidade do Faro, a capital do Algarve.

A cidade do Faro se tornou famosa com a arquitetura de seus docinhos. Eles recebem a forma de bichinhos e de frutas.

Uma palavrinha sobre santa Isabel, a padroeira. A sua história nos foi contada pelo guia. Completei com algumas buscas. Encontrei este resuminho na Wikipedia: "Levava uma vez a Rainha santa - moedas no regaço para dar aos pobres [...] encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava [...] ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu el-Rei - não sendo tempo delas". A fonte é apontada como sendo da Crônica dos frades menores - Frei Marcos de Lisboa - 1562 . Isabel era de Aragon - Espanha. Casou-se com D. Dinis, rei de Portugal. O casamento foi muito conveniente para D. Dinis, em virtude dos muitos dotes de Isabel. Não viviam bem e D. Dinis teve filhos fora do casamento, que muitas brigas geraram. Isabel era conhecida pela sua piedade e caridade. Vivia distribuindo as coisas do Palácio aos pobres e D. Dinis ficou na sua espreita, para flagrá-la. Ao flagrá-la é que deu-se a historinha acima contada. As moedas que trazia, se transformaram em rosas, mesmo fora de época.  Consta também que com o seu falecimento, causado por uma peste, procuraram fazer o enterro rapidamente para evitar mau cheiro, mas apesar disso chegaram a ver um líquido escorrendo. Ao contrário do esperado, ele exalava um suave perfume. Isabel é santa, assim proclamada pela igreja católica, que também a considera como uma de suas doutoras.

A próxima parada foi em Mértola, cidade que fora totalmente dominada pelos árabes. A sua igreja está construída sobre  as fundações de uma mesquita. Do lado da igreja existe um castelo. Tanto a igreja, quanto o castelo se situam bem no alto de um morro, o que é normal. A cidade se localiza já na região do Alentejo, na confluência dos rios Oeiras e o Guadiana. O castelo teve importante papel na reconquista, na luta pela expulsão dos árabes, para guarnecer posições. A cidade também é conhecida como sendo a cidade da caça. Coelhos e lebres são o alvo principal.
O interior da bela igreja de Mértola, construída sob uma mesquita árabe. A cidade está ligada à reconquista, à expulsão dos mouros. Ela é banhada pelas águas do rio Guadiana.

Por volta das 14:00 horas já estávamos em Évora, tida por muitos como a mais bela cidade portuguesa. É a capital do Alentejo. Ela preserva, tanto muralhas romanas, quanto a sua estrutura medieval. Em função disso foi declarada como patrimônio da humanidade. Em sua descrição, no livro Viagem a Portugal, Saramago reclama do calor, da desumanidade da Capela dos Ossos, na igreja de São Francisco, das muitas igrejas, além de contar a história da rendição das forças absolutistas de D. Miguel aos liberais de D. Pedro IV, o nosso D. Pedro I, ocorrida nesta cidade. Conta ainda de Giraldo, nome da principal praça da cidade, lembrando os seus feitos deste personagem, na expulsão dos árabes. As igrejas, as encontramos quase todas fechadas. Não a de São Francisco com a sua capela dos ossos.
A igreja de São Francisco com a capela dos ossos, em Évora

Saramago quando apresenta a região do Alentejo, assim a intitula: "A grande e ardente terra do Alentejo". E nisso Saramago tem toda a razão. O calor é insuportável. Por ela passamos duas vezes e nas duas vezes eu me senti mal. O Alentejo é a região menos povoada de Portugal e isto ocorre em função do latifúndio que marca profundamente a região. Quando Saramago fala de sua visita a Mértola, ele fala da transição climática, afirmando que, apesar de suas terras pertencerem ao Alentejo, elas mais parecem com as terras do Algarve e ironicamente se refere a esta situação do latifúndio. "Com o que, note-se bem, não quer (o viajante) tirar terras ao Alentejo para as dar ao Algarve. Se o viajante tirasse terras, fazia assim: tirava terras ao Alentejo para as dar aos alentejanos, tirava terras ao Algarve para as dar aos algárvios, e, começando pelo Norte, do Minho para os minhotos, de Trás-os-Montes para os transmontanos, assim sucessivamente, cada um com cada qual, e tudo com Portugal. Era assim que o viajante faria".
A bela catedral da Sé, em Évora.

A coisa mais fácil que pode acontecer ao turista nesta cidade é ele perder-se, ou voltar ao mesmo lugar de onde saíra. Trata-se, efetivamente de uma cidade medieval com suas ruelas, becos e muros. O forte calor e o mal-estar por ele causado, me fez recolher bem cedo, mas não antes de saborear o melhor vinho de Portugal, o vinho do Alentejo, o que já tinha feito também no almoço. Por falar em vinho, é quase impossível comprar um mau vinho em Portugal. O controle por origem parece funcionar muito bem. E uma curiosidade histórica, para encerrar. Vejam a perspicácia do homem público que foi o Marquês de Pombal (1669-1782), que já nesta época percebeu, que para vender vinho, ele precisaria de um produto de qualidade. Inventou então, em Portugal, o controle dos vinhos pela sua origem, pela sua procedência. Amanhã tem Vila Viçosa - Alter do Chão - Tomar e Fátima.   

2 comentários:

  1. Muita criatividade, para fazer essas delícias em forma de bichinhos; que lindos! Deve ser muito gostosos!

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  2. Lindos mesmo. São de comer com os olhos. Agradeço o seu comentário, Daniela.

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