terça-feira, 20 de agosto de 2013

Diário de uma Viagem. Covadonga, Covas de Altamira, Santilhana e Santander.

Estamos simplesmente viajando pelos Picos de Europa. Não hesito em afirmar que deve se tratar de paisagens, entre as mais belas do mundo. Além das paisagens, também está cheia de história. Uma das maiores atrações destes Picos, está em Covadonga, onde os árabes sofreram o seu primeiro revés, já em 722. A derrota lhes foi aplicada pelo rei Visigodo Pelayo. Este fato é profundamente simbólico. Ele mostrava aos cristãos que seria possível derrotar o inimigo infiel. Os árabes se encarregaram de movimentar a história da Península Ibérica por um longo tempo. Ali chegaram em 711 e só foram definitivamente expulsos em 1492. Vejam que esta luta em Covadonga, aconteceu apenas 11 anos após a sua chegada.
Entre os Picos da Europa, nas Astúrias, esta maravilha que é a Basílica de Covadonga.

A Península Ibérica foi um lugar fantástico de fusões, de raça, de cultura e de troca de saberes. Os cristãos europeus, os mouros e os judeus foram os que mais se misturaram, gerando o que poderíamos chamar de cosmopolitismo. As guerras não ocorreram apenas entre cristãos e árabes, ocorreram também entre os reinos cristãos. As guerras fundamentalmente são movidas por motivos econômicos. Mas as guerras entre cristãos e mouros encheram os livros de história e as telas dos cinemas, além das de pintura. E para nós, do lado ocidental, do ponto de vista do senso comum, sempre com um viés cristão. O olhar é direcionado por aquele que olha e o olhar nunca é algo mecânico. Um olhar sempre é contaminado pela cultura e pela história. Em suma, poderia aqui dizer, que não enxergamos o mundo com os olhos ou, para por um termo nisto, enxergamos o mundo com os olhos contaminados pela cultura.
A gruta de Covadonga. Pelayo em sua luta contra os mouros, levava uma imagem de Nossa Semhora. consigo. Esta é a origem da gruta.

Voltando a Covadonga, o lugar me impressionou demais. Fundamentalmente pela sua beleza e pela visão, de que o simbólico do poder, é construído, fundamentalmente, por sinais visíveis, de ostentação concreta deste mesmo poder. Construir uma igreja, desta magnitude e beleza em meio a esta paisagem é uma demonstração de muito poder. Os cristãos nunca economizaram na construção do imaginário. Sempre falei aos meus alunos do curso de Publicidade e Propaganda que eles deveriam estudar o cristianismo e a sua expansão. Construir uma religião que atinge dimensões universais não é uma questão apenas de poder e de fé. Esta região das Astúrias é banhada pelo rio Sella, onde a canoagem é muito praticada. O turismo se complementa com o turismo rural, com cavalos selvagens e comidas caseiras regionais. Aqui também existe o fenômeno da neblina que cobre a área e em que o sol toma a aparência de lua.
Monumento a D. Pelayo, em memória da primeira batalha e da primeira vitória contra os mouros em Covadonga. Pelayo é mártir e santo católico.

Creio que já perceberam os efeitos que este lugar me proporcionou. Mas contrastando profundamente com o espírito religioso, a próxima parada nos daria um choque de ciência e de racionalidade. A visita ao museu das Covas de Altamira. São especialmente famosas as suas pinturas rupestres. Estas pinturas teriam influenciado fortemente a Picasso, que assim teria se referido a este lugar: "Aqui está tudo, em termos de realidade, de representação e de ciência". São 18.500 anos de história. Na visita ao museu é mostrado um vídeo e é feita uma caminhada, numa área em que o original da caverna foi reproduzido.
Negócios à vista. Quem se interessar, agradeça a sugestão ao povo de Santilhana del Mar.

As Covas de Altamira se situam nas proximidades de Santilhana del Mar, uma pequena cidade de encher os olhos. Possui menos de cinco mil habitantes. É um povoado tipicamente medieval. Situa-se já na região da Cantábria. Existem flores por toda a parte. Ali almoçamos. Comi Calamares, acompanhados de um bom vinho regional. A pequena cidade está cheia de lojas de souvenir, alguns muito criativos por sinal. Tem uns que propõe negociações nada convencionais, como vou mostrar numa foto. 

Ao meio da tarde chegamos em Santander, a capital da Cantábria. Santander situa-se no litoral, no mar Cantábrico, denominação que o Oceano Atlântico recebe nesta região. É uma cidade eminentemente turística, tanto como balneário, quanto como montanha. Cantábria, na linguagem celta, significaria habitante da montanha. Santander tem exatamente esta característica. Situa-se junto ao mar e junto aos Picos da Europa. A sua praia mais famosa é El Sardinero, onde fica o Palácio de La Magdalena, palácio da realeza espanhola, erguido por Afonso XIII, no início do século XX. Ele tem uma agitada história. A sua localização também transformou a cidade em importante porto. Tem algo em torno de 200.000 habitantes.
O Palácio de La Magdalena, na praia de El Sardinero, na cidade de Santander.

Fizemos um interessante passeio com um pequeno trem por El Sardinero, rodeando o Palácio de La Magdalena. Paramos no seu aquário, com os seus fabulosos bichos aquáticos. Tivemos tempo para fazer uma caminhada junto ao mar. Deu para experimentar as suas águas, gélidas, uma barbaridade. Nos hospedamos nas proximidades de um luxuoso cassino. A cidade também é marcada por inúmeros palacetes. Nos contou a guia, que eles foram construídos durante a Segunda Guerra, em função da neutralidade espanhola. Ricos dos dois lados abandonaram suas pátrias em guerra, abrigando-se neste paradisíaco local. Na cidade também se encontram, por toda parte, enormes canteiros de flores.
Belos canteiros de roseiras, em Santander.

Nesta cidade mora a família Botin, dona do banco Santander, a família mais poderosa da Espanha. A guia nos contou, que esta família tinha adquirido, recentemente, um banco público no Brasil, no início do século. Assim todos podem ver que a privataria tucana deste período, fez fortunas mundo afora. Creio desnecessário dizer que o banco adquirido foi o banco do Estado de São Paulo, o Banespa. Para o dia seguinte a agenda marcava Bilbao, La Rioja e Zaragoza.

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