quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Diário de uma Viagem. Porto.

Pela manhã ainda passeamos em Fátima para, somente depois disso, continuar a nossa viagem até a cidade do Porto, a segunda cidade portuguesa e importante centro industrial e comercial.. Pelas palavras do guia, as rivalidades regionais em Portugal são muito grandes. Ele nos contava do que se faz nas mais importantes cidades de Portugal. Assim, enquanto no Porto se trabalha, em Braga se reza, em Coimbra se estuda e em Lisboa o povo se diverte. A piadinha com relação a Lisboa, pela sua diversão, nos contava o guia, é porque lá "trabalham" os políticos. Dá para ver que os políticos não se dão mesmo ao respeito em nenhum lugar do mundo.
Vista do rio Douro, na cidade do Porto e da ponte D. Luís I, projetada por discípulos de Eiffel, em estrutura de ferro. É chamada de torre Eiffel deitada.

Porto, ao que tudo indica, é uma cidade muito orgulhosa de sua história. Uma de suas designações é A Invicta. O seu desapego e dedicação às causas cívicas e coletivas lhes rendeu um apelido, que de início poderia ser considerado como constrangedor. Tripeiros. O apelido lembra o episódio do início das navegações, quando o Infante D. Henrique parte para a conquista de Ceuta. Os portuenses doaram a carne para alimentar os aventureiros das navegações, ficando apenas com as tripas, como seu alimento. Em compensação receberam esta carinhosa alcunha de tripeiros.

A cidade do Porto também é responsável pelo nome dado ao país. A Pena Ventosa, como era denominada a região das colinas na foz do rio Douro, recebeu o nome de Cale, depois Portus Cale, donde derivou Portucale, o nome de Portugal, que o país ostenta. A povoação da cidade é antiga, devido a sua excelente condição de porto e local estratégico do comércio entre os mares Mediterrâneo e do Norte. Praticamente, sob este ponto de vista, repete a história de Lisboa. A cidade também exibe a sua condição de liberdade, de determinação e autonomia, desde o seu pioneirismo na expulsão dos árabes, na defesa dos princípios liberais, na guerra contra D. Miguel, na Revolução Liberal do Porto, na proclamação da República e na derrubada da ditadura salazarista. Quando Portugal se desnorteava, o Porto sempre lhe oferecia um norte seguro.
Uma das mais belas igrejas de Portugal. A catedral da Sé, na cidade do Porto.

Chegamos à cidade na hora do almoço. Fizemos isso num dos muitos restaurantes à beira do rio Douro, tendo como vista, a bela ponte D. Luís I, com estrutura de ferro, arquitetada por um discípulo de Eiffel. É considerada como a torre Eiffel deitada. No restaurante estava um casal holandês, ambos com mais de 80 anos, com uma invejável condição física, na condição de turistas. Me comuniquei com eles em alemão. Ao contrário do que muitos falam, os brasileiros são tratados, mundo afora, ao menos de acordo com a minha experiência, com muito carinho e afabilidade.

Após o almoço fizemos o tour panorâmico. Estes tours sempre tem os seus limites e os guias insistem em informar que eles são apenas panorâmicos. Uma ou outra rápida paradinha, apenas. É um crime ir ao Porto e não se arrastar ao menos por um dia inteiro pelas colinas da cidade, em seu cento histórico, todo ele declarado Patrimônio da Humanidade. A primeira parada foi na Sé, na catedral da Sé. Como havia cerimônias religiosas, nela não pudemos entrar. A igreja é muito bonita e dali também se tem uma bela vista panorâmica da cidade. Junto a catedral está uma estátua, em bronze, do fidalgo galego, Vimara Peres, que por ordem de D. Afonso III, das Astúrias, expulsou de Portucale, na foz do Douro, já no ano de 868, os invasores árabes. A data não está errada, é 868 mesmo. A expulsão dos árabes, que seria definitiva na península ibérica, apenas em 1492, sempre teve esta direção, de norte a sul.
Fachada de uma das mais belas livrarias do mundo. A Lello e Irmão. Ela se situa no centro histórico do Porto, nas proximidades de sua universidade.

Outra parada foi feita nas proximidades da Universidade e da igreja de Santo Ildefonso. Nas suas proximidades está localizada a Livraria Lello, considerada uma das mais belas livrarias/museu do mundo. Nela, para não dizer que não comprei nada e, para ter uma recordação, comprei A Máquina de fazer espanhóis, do Valter Hugo Mãe. Viram como eu estou chique... Tenho em minha biblioteca um livro comprado na livraria Lello, no Porto, na rua das Carmelitas, 144. Especialmente aqui, neste ponto da cidade, deveríamos ter permanecido por mais tempo.

A padroeira da cidade é a Virgem de Vandoma, cuja festa é celebrada no dia 11 de outubro. Já o padroeiro é São João. Não é São João Batista, mas um eremita da região, que por aí andou no século IX. Mas a festa é celebrada no dia de São João Batista, 24 de junho. A sua festa tem muita tradição. Com martelos de plástico se golpeiam as cabeças, para delas serem afastados os maus espíritos, se distribui manjericão, não como tempero mas como símbolo de amizade, se comem muitas sardinhas e se toma muito caldo verde, enquanto se contemplam os shows pirotécnicos. Esta nossa visita teve o acompanhamento de uma guia local.
Em Vila Nova de Gaia, do outro lado do Douro se concentram as vinícolas que produzem o vinho do Porto. Visitamos uma das mais tradicionais, a Cálem.

Depois do centro histórico fomos para o outro lado do rio, para cidade de Vila Nova de Gaia. Ali, na outra margem do Douro se concentram as vinícolas, especializadas na fabricação do vinho do Porto. Visitamos uma das cantinas mais tradicionais, a Cálem, com guia da própria vinícola. Nos explicou todo o processo de produção, especialmente do tradicional vinho do Porto. Este vinho, cuja produção data do século XVII, foi obtido quando os mercadores ingleses adicionaram conhaque ao vinho, visando a sua preservação por mais tempo. Ele é produzido exclusivamente na região do alto Douro, donde é transportado pelo rio, para ser depurado em Vila Nova de Gaia. Existem três tipos de vinho do Porto: O White, que é tomado como aperitivo, o Ruby e o Tawny que são tomados como digestivos. Estes vinhos não tem problemas de mercado, tendo nele fácil colocação.
Estas garrafas eu tentei comprar, mas não houve negociação. O vinho do porto foi uma invenção do século XVII, quando foi acrescido conhaque ao vinho, com a finalidade de preservá-lo por mais tempo.

O Porto sempre teve forte presença de mercadores ingleses, o que influenciou, inclusive nos hábitos portuenses, como o de tomar chá. Os ingleses chamam a cidade de OPorto. Ela é absolutamente moderna, com boa infraestrutura, e dotada de moderno metrô. Possui em torno de um milhão e meio de habitantes. Não saí inteiramente satisfeito desta cidade. Queria conhecê-la melhor, especialmente andando pelo seu centro. Quem sabe, numa próxima oportunidade. Para o dia seguinte, Santiago de Compostela seria o nosso destino, mas passando antes por Braga e Cambados. Começaria o nosso giro pela Espanha, sendo Montsserrat, ou Montse, a nossa guia.





4 comentários:

  1. Pedro, volte! O Porto é a minha cidade do coração, por isso meu discurso pode parecer apaixonado demais, mas o que seria da vida se não fosse a paixão, ainda que seja por uma cidade. Para conhecer o Porto (embora eu já tenha ido até lá oito vezes ainda não conheço) deve-se ficar algumas horas na Avenida dos Aliados, até que os prédios te abracem , as pedras te acolham e o ritmo da cidade te preencha. Há ainda, pertinho da Lello o Centro Português de Fotografia abrigado na antiga cadeia e que foi casa por uns tempos de Camilo Castello Branco. Logo ao lado a linda torre dos Clérigos e a estação de São Bento.... e tanto mais... volte! Você também vai se apaixonar. Bj

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  2. Apaixonar-se pelo Porto é muito fácil, Zaclis. Eu não me conformei com uma paradinha de apenas dez minutos em seu centro histórico. Pretendo voltar para Portugal, sim. Conhecer melhor, e isto implica em mais tempo, especialmente as cidadezinhas menores e, evidentemente, ficar ao menos um dia inteiro, andando pelo centro do Porto. Abraço.

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  3. O hábito de beber chá regularmente, foi introduzido na Inglaterra por Catarina de Bragança no séc XVII, os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegarem por mar ao Oriente e os primeiros a irem ao Japão. É dessas trocas comerciais que o costume de beber chá chega a Portugal, e que Catarina levou para Inglaterra quando casou com Carlos II, já para não falar do uso de talheres e uso do tabaco :)
    comprimentos
    Ana

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  4. Ana, agradeço o seu comentário. É uma inversão na influência. Os portugueses é que influenciaram os ingleses.

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