quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Diário de uma viagem - Rumo a Nápoles.

Este foi um dos dias mais conturbados da nossa excursão. Praticamente só andamos de ônibus no rumo de Nápoles. Tudo se deveu ao atraso do barco na travessia. Passamos até por turbulência. Na apresentação do passaporte, fui surpreendido por um sorriso muito gentil pelo guarda que o solicitou: é brasileiro? São muito gentis para com os brasileiros, ao contrário do que muitas vezes se afirma por aqui.
Chegamos a Bríndisi, uma cidade no extremo sul da Itália, bem no seu calcanhar. É um importante porto e tem muita importância estratégica, devido a sua localização. Possui em torno de cem mil habitantes. É o local em que morreu Virgílio, o autor da Eneida.
De Brindisi viajamos para o norte, passando pela região dos Abruzzos, até chegarmos a altura de Nápoles, e aí abandonar a costa do Adriático, atravessar os Apeninos e chegar à costa do Mar Tirreno.
A programação do dia era a de passar por Trani, um pequeno porto pesqueiro, ainda na costa do Adriático. Mas a principal atração do dia seria Castel del Monte e o seu famoso castelo. O castelo é octogonal e dizem ser cheio de mistérios. Não tinha finalidades militares, não sendo ligado à defesa. Foi mandado construir em 1224 por Frederico II, o do Sacro Império Romano Germânico, e era o seu palácio de caça. Foi usado mais como residência e templo. Não o visitamos em função do horário. Uma pena. A região está muito ligada às cruzadas.
Almoçamos em Trani, um almoço espetacular destes chamados pratos turísticos, três entradas e um prato principal, a base de frutos do mar. Numa das entradas veio um pequeníssimo pedaço de salmão, extraordináriamente temperado, sob uma fina camada de um limão siciliano. Vou fazer na primeira oportunidade. O limão siciliano está presente em tudo.
O prato principal, pasta com frutos do mar.

Chegamos a essa cidade, já bem tarde para o almoço. Era domingo. Um deserto só. O domingo italiano começa com a missa e termina no almoço. A famosa macarronada da Mama, pasta a ragu. Depois é só descanso.
Creio que me enganei com relação a uma fotografia de ontem. A Igreja que mostrei já é da Itália. A confusão se deu em função do arquivo que abri, sob o nome de travessia. Como a igreja é muito bonita, faço a publicação hoje, já com o local correto, Trani. Conferi nos meus apontamentos.
A bela igreja de Trani.

Seguimos viagem entre parreirais, pessegueiros, pereiras e oliveiras pelo caminho. As terras parecem ser melhores que as da Grécia. São terras pretas, de origem de lavas vulcânicas. O clima também está melhor. Já não sentimos o mesmo calor que na Grécia. A irrigação está em toda parte. Muitas torres de energia eólica pelo caminho e também muitos incêndios florestais nas montanhas dos Apeninos. São muito frequentes e difíceis de comabter. Na Grécia a implantação da energia eólica está totalmente paralisada, em função da crise. Na Itália a sua implantação também está mais lenta.
Em meio a essas paisagens, fomos chegando a Nápoles, ao fim da tarde. A cidade tem em torno de um milhão de habitantes e a região metropolitana, cinco milhões. É a terceira cidade italiana, ficando atrás de Milão e de Roma. A sua história está ligada aos gregos, aos romanos, aos bizantinos, à Sicília, à Espanha, até chegar a unificação italiana em 1861. A sua universidade data de 1224. Bolonha, a primeira, data de 1088.
Por falar em universidade, não sei se podemos assim dizer, em Nápoles está a universidade da pizza, pois é de lá a sua origem. É particularmente famosa a pizza alla Margherita, criada pelo pizzaiolo Raffaele Esposito, em homenagem a rainha Margherita de Savóia, quando em visita à cidade, em 1889. É a pizza italiana por excelência, é uma peça de patriotismo, uma vez que os seus componentes formam as cores da bandeira italiana: o branco da mozarela, o vermelho do tomate e o verde do manjericão.
Comendo pizza margherita em Nápoles. É uma pizza altamente patriótica. Seus compontentes formam as cores da bandeira italiana: o branco da mozarela, o verde do manjericão e o vermelho do tomate.

Fizemos o tour panorâmico e nos hospedamos num confortável hotel. Nápoles é uma cidade cheia de constrastes, marcada por muita pobreza, desemprego e criminalidade e especialmente por abrigar uma das mais famosas máfias: a Camorra. A Camorra atua desde o início do século XIX e atua com muita proximidade com a população mais pobre, protegendo-a, mas impondo as suas leis. A Wikipédia nos informa que ela é formada por cerca de cem famílias operacionais e conta com mais de sete mil filiados. Ela atua nos campos da agiotagem, da extorsão, do contrabando, das drogas, do jogo e da produção do cimento, em toda a região da Campania, da qual Nápoles é a capital.
Vista da Praça do plebiscito, no centro de Nápoles. Todo o centro de Nápoles é patrimônio cultural da humanidade.

Ao comermos a pizza observamos um pouco do hábito alimentar dos italianos. Numa mesa ao lado, dois homens comeram, primeiramente batata frita e depois uma pizza cada um e tomaram muita coca cola. Hábitos nada saudáveis. Ainda fumaram muito. Na Itália é permitido fumar debaixo dos toldos. A proibição atinge apenas a parte interna dos restaurantes. Ainda bem que a nossa legislação é mais restritiva que a deles. Neste dia nós conseguimos dividir uma pizza individual. Em outros lugares não fizeram isso. Ela não é servida cortada em fatias.



As águas do Mar Tirreno, na ilha de Capri. Uma morada ideal para as sereias. 

Antes, mais algumas coisas. O primeiro nome da cidade de Nápoles foi Parthenope, o nome de uma das sereias da mitologia grega, que teria sido a fundadora da cidade. Pelos encantos naturais, uma das moradas preferidas das sereias, era o mar entre a costa de Nápoles e a ilha de Capri. Como as sereias são um produto da imaginação, além de já ter visto as sereias eslavas na travessia de Ancona para Igoumenitsa, agora também foram vistas sereias napolitanas, bem como mais adiante seriam vistas as sereias sicilianas.
Outra questão é a música. Sancta Lucia é uma das músicas italianas mais populares aqui no Brasil. A música canta as belezas da "Ó doce Nápoles - Ó solo beato". A invocação a Santa Luzia se dá pelo fato de Santa Luzia ser um dos bairros da cidade.

2 comentários:

  1. Pedro Eloi, estou organizando uma viagem para a Itália em setembro/2013.
    A princípio íamos meu marido e eu, para a comemoração de 3 anos de casados. Mas irmos só nós não seria justo e, portanto, incluímos "as sogras" (duas descendentes de italianos que sempre sonharam conhecer a Itália de seus pais!).
    E nesta busca incessante por informações, dicas, relatos, encontrei o seu blog...
    ... E ME DELEITEI!
    Não são simples informações, não são dicas, suas palavras preencheram o que vai ser essa viagem!
    Que visão! Quanta emoção!

    Agradeço demais!
    Um abraço!

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  2. Mariliz, linda a sua informação e comentário. Isso me anima a continuar. Lhes desejo uma bela viagem. Quanto a mim já estou preparando outra. Desta vez Portugal, Espanha e uma semana em Paris merecerão a atenção. Escreverei os diários novamente.
    Meus agradecimentos.

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