segunda-feira, 25 de julho de 2022

Um banquete no trópico. 34. Ordem e progresso. Gilberto Freyre.

Este é o trigésimo quarto trabalho do presente projeto.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/03/introducao-ao-brasil-um-banquete-no.html

Trata-se da análise feita por Élide Rugai Bastos, professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, de Ordem e progresso, de Gilberto Freyre. A resenha encontra-se em  Introdução ao Brasil - um banquete no trópico, volume II, nas páginas 357 a 384, livro organizado por Lourenço Dantas Mota. A primeira edição do livro data de 1959. Trata das transformações ocorridas no Brasil, na transição do Império para a República. A análise alcança, assim, a última década do século XIX e as três primeiras do XX.

No volume II, a resenha de Ordem e progresso.

A primeira observação da resenhista Élide Rugai Bastos sobre Ordem e progresso é relativa a uma observação de Freyre na apresentação: Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil - 3. Assim ele sugere uma unidade entre os seus três grandes livros. A formação pré nacional e nacional da sociedade brasileira em Casa-Grande&Senzala, a decadência do patriarcado rural até a República em Sobrados e mucambos e a análise da última década do século XIX e as três primeiras do XX, em Ordem e progresso. Os dois primeiros volumes tem o nordeste como cenário, enquanto que o terceiro, já abrange o Brasil inteiro. Segundo a crítica, este terceiro volume não teve o mesmo alcance que os dois anteriores.

A resenhista afirma ser o livro uma resposta à pergunta de como se manteve, na mudança do regime monárquico para o republicano, a organicidade da sociedade e a unidade nacional. De como se manteve a ordem democrática em meio a alterações bastante acentuadas, alterações na linguagem, nas crenças, na moda, na higiene, no sanitarismo, na urbanização, nas instituições e na economia. As diferentes regiões tem também ordem e progresso diferenciados. A base para o livro são entrevistas que Freyre realizou junto a pessoas que viveram as transições. O livro não é basicamente organizado em capítulos, mas em ensaios. O livro mostra também a quase total apatia do povo com relação às mudanças ocorridas. Houve uma adesão sem entusiasmo.

Três teriam sido os fatores responsáveis pelo relativo êxito do novo regime: a manutenção da integridade territorial, a defesa da propriedade e a defesa das liberdades individuais. Nenhuma voz poderosa saiu em defesa da Monarquia. Não éramos ainda um povo, numa definição sociológica. O lema "Ordem e progresso", privilegiava muito mais a ordem do que o progresso. Os nossos maiores revolucionários eram conservadores. Aqui os ventos revolucionários franceses sempre tiveram pouca força. A República representava uma continuidade de nosso passado, tendo o exército como guardião da ordem.

Uma importante parte do livro é dedicada às novas formas de socialização, acompanhando o fenômeno da transição do mundo rural para o urbano. Preserva-se, no entanto, todas as distinções entre a socialização dos meninos e das meninas e os modos europeus se impõem às do mundo rural do passado. Esse fenômeno passa por uma grande mudança em todos os hábitos e costumes. Mudanças também são trazidas pelo fenômeno da industrialização e da imigração. Abrem-se espaços, ainda que pequenos, para a democratização das relações sociais e dos mecanismos de ascensão social. Na educação ocorrem mudanças de método e de conteúdo.

Também merece destaque a observação de que a mudança mais profunda não foi a da Monarquia para a República, mas sim, a da abolição da escravidão, emancipação mais teórica do que prática. Houve também grandes dificuldades de inserção do negro e da mulher nas estruturas sociais em mudança, fator que causou grandes insatisfações, afetando a estabilidade social. O país necessitaria de mudanças mais profundas, as de superfície já não davam conta da manutenção da ordem. A indústria representou a modernização mas relegou a um segundo plano a economia do campo. Houve também toda uma secularização nos valores que regiam a sociedade. A assistência social saiu das instituições de caridade para as mãos do Estado, o que representou um total abandono. A religião perdeu a sua condição de guardiã da moralidade, os costumes se secularizaram e a liberdade religiosa foi ganhando força. Tudo isso como consequência da separação entre Igreja e Estado, no advento da República. A análise ainda passa pela ebulição dos anos 1920. A questão social vai ganhando força e a República passa a viver a sua grande crise, crise de descompasso entre o governo e a sociedade. A modernização foi feita de cima para baixo. Sempre uma modernização conservadora.

Em suma, o livro que não é de fácil leitura, procurou a resposta à pergunta inicialmente feita. Vejamos o parágrafo final da resenha: "A tarefa que Gilberto propõe à sociologia é a resposta à pergunta: como se mantém a organicidade e a unidade nacionais? Vai buscá-la na análise das formas pelas quais se dá a internalização da ordem social, no caso do texto, através do processo de socialização. Aqui reside o grande alcance de seu livro. Mas também o seu limite, o que levou a que se fizessem várias críticas ao trabalho, principalmente na direção de apontar-se a centralidade de sua análise na esfera da cultura, o que o impede de abordar de frente os desafios contidos no projeto emancipatório da modernidade".

Deixo ainda a resenha dos dois livros anteriores. Casa-Grande&Senzala

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/04/um-banquete-no-tropico-10-casa-grande.html

Sobrados e mucambos. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/06/um-banquete-no-tropico-33-sobrados-e.html


2 comentários:

  1. Super interessante esse histórico. Mas, quero me referir sobre a Assessoar. Em meiado de novembro a dezembro de 1986, fiz um pequeno estágio de 40 dias nessa instituição e confesso que gostei muito da forma de trabalho dos produtores rurais de região. Aprendi muito com voces.Tenho saudade. Gostaria de ficar informado pela revista Cambota. Que ser assinante. Outro momento conto da minha história.

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    1. Da monarquia à República. A República Velha. Transformações. Como é importante estudar esse período. Amigo, agradeço o seu comentário. Quanto a Assessoar, ela é realmente uma instituição fantástica. Grande abraço.

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