quarta-feira, 20 de julho de 2022

Um banquete no trópico. 31. História da literatura brasileira. José Veríssimo.

Este é o trigésimo primeiro trabalho do presente projeto.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/03/introducao-ao-brasil-um-banquete-no.html

Trata-se da resenha feita por João Alexandre Barbosa, professor de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, de História da literatura brasileira, de José Veríssimo. A resenha encontra-se em Introdução ao Brasil - Um banquete no trópico, volume II, nas páginas 279 a 297, livro organizado por Lourenço Dantas Mota. A publicação da obra é póstuma, do ano de 1916, o mesmo ano de sua morte.

No volume II, a resenha da História da literatura brasileira. 


A resenha apresenta três grandes tópicos: o autor e o contexto da obra, o contexto da época e a análise de seu livro. José Veríssimo nasceu em Óbidos, no Pará, em 1857 e morreu no Rio de Janeiro em 1916. Ingressou na escola politécnica do Rio de Janeiro, interrompendo porém, o curso por motivos de saúde. Dedica então os seus estudos à crítica literária, sendo uma das lideranças críticas da intelectualidade brasileira. No Rio de Janeiro é assíduo colaborador de jornais e revistas. O seu livro é uma coletânea de artigos já anteriormente publicados. Teve notável desempenho na criação e estruturação da Academia Brasileira de Letras. Otto Maria Carpeaux assim define o seu livro: "O livro não é propriamente obra de um historiador de letras e sim a palavra final de um crítico literário".

O livro é formado por dezenove capítulos, precedidos de uma introdução, que, para facilitar o acompanhamento, eu nomino. I. A primitiva sociedade colonial; II. Primeiras manifestações literárias; III. O grupo baiano; IV. Gregório de Matos; V. Aspectos literários do século XVIII; VI. A plêiade mineira; VII. Os predecessores do romantismo; VIII. O romantismo e a primeira geração romântica; IX. Magalhães e o romantismo; X. Os próceres do romantismo; XI. Gonçalves Dias e o grupo maranhense; XII. A segunda geração romântica, os prosadores; XIII. A segunda geração romântica, os poetas; XIV. Os últimos românticos (prosadores e poetas); XV. O modernismo; XVI. O naturalismo e o parnasianismo; XVII. O teatro e a literatura dramática; XVIII. Publicistas, oradores, críticos; XIX. Machado de Assis.

José Veríssimo professava o naturalismo. O resenhista chama a atenção para a ausência dos poetas simbolistas e destaca os capítulos IV e XIX, dedicados a Gregório de Matos e Machado de Assis. Em parte desconsidera a importância de Gregório de Matos e quanto a Machado de Assis, mais o consagra do que critica. O resenhista também destaca a ênfase dada ao romantismo, ao qual dedica oito capítulos.

Quanto ao contexto da época, as atividades crítico-literárias e históricas faziam parte do seu tempo. A sua História da literatura brasileira é a terceira obra do gênero. Foi precedido por Ferdinand Wolf e o seu O Brasil literário e Sílvio Romero com a sua História da Literatura brasileira. A crítica literária surgiu com as academias do período romântico, na busca de uma identidade nacional e o desejo pela independência política. Foram essas sínteses que possibilitaram o grande livro de Antônio Cândido. Seu tempo foi um tempo de enfrentar o positivismo e o evolucionismo e os determinismos que provocavam a descrença no Brasil. Também recebeu as influências estrangeiras do período. Vejamos: "Com essa indicação de fontes estrangeiras, que completam as brasileiras da herança romântica e da contracorrente romerina (Sílvio Romero), está desenhado o contexto mais amplo para a leitura de História da literatura brasileira.

A obra reflete a tensão entre a dependência e a autonomia com relação a literatura portuguesa, trazida pelo romantismo e ele traça belos paralelos de correlação. "A literatura que se escreve no Brasil é já a expressão de um pensamento e sentimento que não se confundem mais com o português, e em forma que, apesar da comunidade de língua, não é mais inteiramente portuguesa. É isto absolutamente certo desde o Romantismo, que foi a nossa emancipação literária, seguindo-se naturalmente à nossa independência política...". A partir dessas observações ele segue a periodização que podemos observar no sumário, com toda a ênfase, que já apontamos, para o romantismo. Ele dá grande importância à escolha dos autores que ele analisa. Ele os escolhe a partir de uma concepção humanizadora da literatura, que aprendeu com Lanson. Vejamos uma transcrição sua (belíssima, por sinal) desse autor:

"A literatura destina-se a nos causar um prazer intelectual, conjunto ao exercício de nossas faculdades intelectuais, e do qual lucrem estas mais força, ductilidade e riqueza. É assim a literatura um instrumento da cultura interior, tal o seu verdadeiro ofício. Possui a superior excelência de habituar-se a tomar gosto pelas ideias. Faz com que encontremos num emprego do nosso pensamento, simultaneamente um prazer, um repouso, uma renovação. Descansa das tarefas profissionais e sobreleva o espírito aos conhecimentos, aos interesses, aos preconceitos de ofício, ela 'humaniza' os especialistas. Mais do que nunca precisam hoje os espíritos de têmpera filosófica; os estudos técnicos de filosofia, porém, nem todos são acessíveis. É a literatura, no mais nobre sentido do termo, uma vulgarização da filosofia: mediante ela são as nossas sociedades atravessadas por todas as grandes correntes filosóficas determinantes do progresso ou ao menos das mudanças sociais; é ela  quem mantém nas almas, sem isso deprimidas pela necessidade de viver e afogadas nas preocupações materiais, a ânsia das altas questões que dominam a vida e lhe dão um sentido ou um alvo. Para muitos dos nossos contemporâneos sumiu-se-lhes a religião, anda longe a ciência; da literatura somente advém os estímulos que os arrancam ao egoísmo estreito ou ao menos mister embrutecedor". 

Num passeio pelos capítulos, o resenhista se detém no de número XV, sobre o modernismo. Ele traça as suas raízes: "O movimento de ideias que antes de acabada a primeira metade do século XIX se começa a operar na Europa com o positivismo comtista, o transformismo darwinista, o evolucionismo spenceriano, o intelectualismo de Taine e Renan e quejandas correntes de pensamento, que, influindo na literatura, deviam por termo ao domínio exclusivo do Romantismo, só se entrou a sentir no Brasil, pelo menos, vinte anos depois de verificada a sua infância ali". É o movimento mundial influenciando a nossa literatura.

Vejamos ainda o parágrafo final da resenha: "Sendo assim, com a sua História, José Veríssimo, por um lado, encerrava toda aquela sequência de esforços oitocentistas em pró de uma história literária brasileira, desde os primeiros indícios românticos até a contracorrente de Sílvio Romero, por outro, de uma outra maneira, até mesmo pelas dificuldades em que se debatia, iniciava a abertura para uma nova historiografia que somente quase meio século depois, nos anos 50 do século XX, encontraria a sua real continuidade".  Deixo ainda dois links, que podem ajudar na interpretação desse trabalho. O primeiro sobre o livro de Sílvio Romero e o segundo, o de Antônio Cândido.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/05/um-banquete-no-tropico-27-historia-da.html

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/04/um-banquete-no-tropico17-formacao-da.html

E, como de hábito, o trabalho anterior, sobre A organização nacional, de Alberto Torres.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/05/um-banquete-no-tropico-30-organizacao.html


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